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COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO: DAS DOBRAS DE REFLEXÃO À
PLURALIDADE DOS CONCEITOS
E-mail:
manuelapt69@yahoo.com.
br ghafreire@gmail.com
Rosa Manuela Teixeira Pinto Munguambe
1
, Gustavo Henrique de Araújo
Freire
2
À medida que surge o excedente de produção o uso da mão de obra passa a ser mecanicista,
o consumidor muda de atitude passando de um consumidor passivo a um indivíduo ativo, mais
exigente e atento as transformações da sociedade. Por conseguinte, as empresas começam a
visualizar a necessidade de criar diferentes tipos de capacitação aos seus colaboradores para darem
conta da demanda. Neste momento, acentua-se a relevância do processo de comunicação em todos
os segmentos da sociedade, especialmente nos setores industriais e empresariais, que passam a ter
cada vez mais necessidade de informação e precisam estar atualizados acerca dos elementos que
envolvem os processos de organização e comunicação que possam proporcionar maior
competitividade. Sem o devido planejamento para atender à demanda por informação as
organizações e as instituições dificilmente atenderiam às exigências da sociedade contemporânea,
especialmente em ambientes mais competitivos. Assim, inicia-se um processo em que as
atividades voltadas para a gestão e comunicação da informação ganham uma nova relevância.
Este excedente de produção tem sua origem:
[...] na crescente relevância da ciência devido ao desenvolvimento industrial no século
XIX (primeira revolução industrial), onde se inicia a especialização da ciência e várias
ciências foram produzidas e necessárias, e a comunicação científica cresceu e continua
num processo em andamento [...] (WERSIG; NEVILLING, 1975, p. 34).
Uma nova sociedade começa a tomar corpo, a sociedade de informação, onde a informação
e o conhecimento são os insumos mais importantes para o desenvolvimento da indústria, de
empresas e de um país. A utilização da expressão “sociedade da informação” se inicia nos últimos
anos do século XX, mais precisamente na década de 1970, especialmente no Japão e EUA, no
âmbito de discussões sobre o que seria a “sociedade pós-industrial” e quais seriam suas principais
características (TAKAHASHI, 2002, p. 2).
Esta expressão surge como substituto para o conceito de “sociedade pós-industrial” e como
forma de transmitir o conteúdo específico do “novo paradigma técnico-econômico”. Esta
sociedade pós-industrial ou “informacional” está ligada à expansão e reestruturação do capitalismo
desde a década de 80 do século que termina. A ideia subjacente ao conceito de SI (sociedade de
informação) é o de uma sociedade inserida em um processo de mudança constante, fruto dos
avanços na ciência e na tecnologia (COUTINHO; LISBÔA, 2011).
Como enfatiza Werthein (2000), a expressão Sociedade da Informação advém do “boom”
da informática e das telecomunicações, que permitiram a criação da chamada cibercultura,
neologismo definido por Lévy (1999, p. 17) como sendo
Modos de pensamento e de valores que se desenvolvem com o crescimento do
ciberespaço, definido por meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos
1
Universidade Eduardo Mondlane. Maputo Cidade. Moçambique.
2
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro-RJ. Brasil. https://orcid.org/0000-0001-8786-866X
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computadores, abarcando não apenas a infraestrutura material da comunicação digital,
mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres
humanos que navegam e alimentam esse universo.
A sociedade de informação na visão de Oliveira e Bazi (2008) caracteriza uma etapa
alcançada pelo desenvolvimento capitalista contemporâneo, no qual as atividades humanas
determinantes para a vida econômica e social organizam-se em torno da produção, processamento
e disseminação da informação através das tecnologias eletrônicas de informação e comunicação.
Como esclarece Unger e Freire, I. (2008, p. 88),
[...] ao tornar a informação a principal matéria prima para o aumento da produtividade,
em nível mundial, a sociedade contemporânea tornou também necessária a organização e
gestão desse insumo. [...] onde, de um regime industrial formado pelas tecnologias de
comando e comunicação, passamos para um regime de produção que se qualifica como
sociedade da informação e comunicação através de tecnologias cada vez mais digitais.
Nesse sentido,
A relação do homem com a técnica e a tecnologia sofre profundas alterações ao longo do
século XX, motivada pelas duas guerras mundiais, pela industrialização do ocidente e em
função da importância que a humanidade tem dado, especialmente, nos últimos 50 anos
à preservação e transmissão do conhecimento (OLIVEIRA; BAZI, 2008, p. 116).
A partir de uma combinação da evolução histórica, desenvolvimento de necessidades
sociais específicas e desenvolvimento de novas metodologias e tecnologias emergiram várias
disciplinas no contexto da evolução da ciência, e na área da informação surge uma nova disciplina
que é chamada de Ciência da Informação (ou por outros derivados do termo "informação”). Esta
ciência baseia-se na noção de necessidades de informação de certas pessoas envolvidas no trabalho
social e na preocupação com o estudo dos métodos de organização dos processos de comunicação
de uma forma que satisfaça essas necessidades em informação. O termo básico "informação" pode
ser entendido apenas se for definido em relação a estas necessidades de informação (WERSIG;
NEVILLING, 1975).
A ciência da informação é uma disciplina que investiga as propriedades e o comportamento
informacional, as forças que governam os fluxos de informação, e os significados do
processamento da informação, visando à acessibilidade e a usabilidade ótima. Está preocupada
com o corpo de conhecimentos relacionados á origem, coleção, organização, armazenamento,
recuperação, interpretação, transmissão, transformação e utilização da informação. (BORKO,
1968).
Nesse contexto, as unidades que trabalham com a informação, especialmente as bibliotecas
das universidades públicas tornam-se relevantes para a sociedade por concentrarem uma grande
massa de produção do conhecimento científico e tecnológico de um país e ocupam um espaço
fundamental no desenvolvimento dessa sociedade, que têm o papel de organizar e disseminar
informações a um público específico, que tem as suas atividades relacionadas com a produção de
novos conhecimentos.
Com o crescimento do fluxo de informação e o incremento das tecnologias de informação
e comunicação, o conhecimento passa a ter um valor agregado nas habilidades de diversas funções
isto é, o saber (conhecimento) passa ao saber fazer, que é a habilidade exigida neste contexto da
sociedade de informação. É a substituição da mão-de-obra desqualificada, de produção mecânica
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e seriada, para o reconhecimento das habilidades individuais no processo de trabalho e da
crescente necessidade da informação. A competência para habilidades voltadas para busca,
organização e uso da informação passa a ser exigência no mercado de trabalho com vista à
solução de problemas informacionais.
O acesso à informação, a compreensão, o conhecimento das fontes de informação, bem
como a capacidade de interpretação, síntese, reformulação e comunicação são fundamentais na
sociedade contemporânea. Belluzzo, Santos e Almeida Júnior (2014) esclarecem que, são
processos apoiados em uma perspectiva de solução de problemas sobre a necessidade de
informação, o qual denominado de competência em informação (Information Literacy). Siqueira
(2003) acrescenta que, se pode inferir a competência em informação em um contexto no qual
existe tendência a mudanças de tarefas de cunho manual e das consideradas como de execução,
em feitos de informação e comunicação, exigindo do homem novo maior capacidade cognitiva,
manuseio de informações e ampliação das atividades com foco no conhecimento.
A competência em si constitui um conjunto de conhecimentos, atitudes, capacidades e
aptidões que habilitam alguém para vários desempenhos da vida. As competências pressupõem
operações mentais, capacidades para usar as habilidades e emprego de atitudes adequadas à
realização de atividades e conhecimentos (BELLUZZO; SANTOS; ALMEIDA JÚNIOR, 2014,
p. 63).
Dessa forma, é significativo discutir a competência em informação ligada ao mundo do
trabalho, pois está relacionada à mobilização das capacidades intelectuais dos indivíduos que
trabalham com a informação. Na atividade laboral, a competência em informação é aquela que
habilita os indivíduos para lidar com todas as fontes de informação, no sentido de organizar, filtrar
e selecionar o que de fato é importante para a tomada de decisões no ambiente organizacional
(ambiente interno e externo à organização).
Na década 70, a competência em informação ou information literacy nasce de uma
necessidade de um grupo de bibliotecários americanos em transformar suas bibliotecas totalmente
desprestigiadas em algo mais visível no que tange ao acesso e mais atraente aos usuários,
principalmente as escolares. (CAMPELLO, 2003). O termo Information Literacy foi usado pela
primeira vez nos Estados Unidos em 1974, para designar habilidades necessárias à utilização de
bases eletrônicas que estavam sendo comercializadas no país no período da década de 1960.
Representando os interesses dos produtores dessas bases, Paul Zukowsky em 1974 apresentou um
relatório à National Commission on Libraries and Information Science, em que defendia a
necessidade de preparar as pessoas para utilizar adequadamente esses produtos (bases eletrônicas),
já que seu número tendia a crescer em ritmo acelerado.
Essa equipe tinha como propósito estabelecer as diretrizes para um programa nacional de
acesso universal à Information Literacy, que foi oncluído em 1984. Nesse trabalho descreveu uma
série de produtos e serviços de informação providos por instituições privadas e suas relações com
as bibliotecas, tendo constatado que as relações tradicionais entre esses setores e as bibliotecas,
inseridos num cenário informacional que começava a se expandir, passavam naquele momento
por um processo de transição, advindo daí a recomendação de que se expandissem tais relações e
acessos à informação, incluindo as implicações políticas, extrapolando o ambiente da biblioteca
por meio de um movimento nacional de Information Literacy, (DUDZIAK, 2001).
De acordo com vários autores como Takahashi (2002), Dudziak (2010) e Campello,
(2003), a década de 70, especificamente em 1976, foi marcada na Biblioteconomia com a
preocupação da divulgação da competência em informação como ferramenta importante para
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aquisição de habilidades e conhecimentos do indivíduo, que inclui uso dos recursos informacionais
com a efetiva e eficiente localização da informação para a resolução de problemas e tomada de
decisão, em sintonia com os recurso das tecnologias eletrônicas de informação. Nesse contexto,
a competência em informação passa a ser vista como um elemento essencial à democracia e a
constituição da cidadania, incluindo desta forma a noção de valores ligados a informação para a
cidadania. Reconhece-se a necessidade da preparação dos profissionais em habilidades e
conhecimento em competência em informação
A alteração nos sistemas de informação nas bibliotecas e em centros de informação,
principalmente nos Estados Unidos surge fortemente na década de 80, influenciado pelas novas
tecnologias eletrônicas de informação e comunicação. É notório aqui, que a ascensão e a difusão
das tecnologias eletrônicas de informação e comunicação alteraram desde as bases de produção
até o acesso a informação, passando pelo controle, guarda e disseminação, tendo nesse momento
como o foco principal o computador e alterando definitivamente os sistemas de informação. Esses
computadores proporcionaram que os bancos de dados, serviços de indexação e resumos, sistemas
complexos de informação, redes interligadas de bibliotecas, cd-rom entre outros fossem utilizados
no tratamento, armazenamento e recuperação da informação. Inúmeros trabalhos surgiram
enfocando a competência em informação (DUDZIAK, 2003).
Neste momento, os profissionais bibliotecários verificam que, além dos trabalhos técnicos,
o profissional deverá também se especializar para atuar também como educador, pois o indivíduo
que busca a informação necessita estar capacitado, e este aprendizado deve ser ao longo da vida,
que as Tecnologias Eletrônicas de Informação e Comunicação a cada momento descortinam
novas possibilidades (PONTES JUNIOR, 2009).
O desenvolvimento da concepção de Information Literacy ocorreu no início dos anos 80,
associado às práticas dos postos de trabalho e às noções e regras da qualificação para o emprego
(MIRANDA, 2004b). A apropriação do termo, pela classe bibliotecária segundo Campello (2006)
ocorreu com maior abrangência na década de 1980 nos Estado Unidos, após a divulgação do
relatório da National at Risk: the Imperative for Educational Reform (THE NATIONAL
COMMISSION ON EXCELLENCE IN EDUCATION, 1983). Um amplo diagnóstico da
educação norte-americana, elaborado em função da preocupação generalizada com problemas de
aprendizagem que ocorriam nas escolas do país. Naquela época, os bibliotecários de bibliotecas
universitárias e escolares tinham uma percepção clara de sua contribuição à aprendizagem e
foram surpreendidos pelo fato de não ter sido a biblioteca mencionada como um recurso
pedagógico. A partir desse estudo de usuários de Breivik e, da reação à publicação do documento
governamental da divulgação do Information Power, os bibliotecários começavam a prestar
atenção às conexões existentes entre bibliotecas e educação, a information literacy e o aprendizado
ao longo da vida.
Nesta década o ponto importante foi a integração da competência em informação ao
currículo, não como disciplina isolada, autônoma e desprovida de contexto, mas considerá-la em
harmonia com o universo em que se encontra o indivíduo aprendiz. O centro da questão neste
período estava no ser humano, na sua sobrevivência dentro da nova conjuntura da sociedade onde
a informação se torna a matéria prima, a educação o caminho para a aquisição de habilidades para
o seu uso eficiente e eficaz e as Tecnologias eletrônicas de informação e comunicação ferramentas
para a gestão da necessidade de informação.
O termo competência em informação foi então usado para designar o conjunto das
habilidades necessárias a uma sociedade caracterizada por um ambiente informacional, como é o
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caso da biblioteca das instituições de ensino públicas que envolvem uma diversidade de usuários
e estruturas de gestão complexa.
Esta década também foi marcada pela publicação de um grande número de textos sobre o
assunto na literatura da biblioteconomia e Ciência da Informação e a reação dos bibliotecários
culminou com a publicação de dois documentos importantes para a competência em informação.
O primeiro foi a “Information literacy: Revolution in library” editado por Patrícia S. Breivik e E.
Gordon e o segundo que foi um relatório final editado pela American Library Associations (ALA)
em 1989 intitulado “Presidential committee on information literacy: Final report”. Ambos
enfocando o papel educacional das bibliotecas e a importância dos programas educacionais em
competência em informação, para a capacitação e desenvolvimento dos estudantes, em
competência informacional.
No primeiro documento, especificamente (DUDZIAK, 2003), enfatizando a cooperação
entre bibliotecários e administradores das universidades, Breivik e Gee introduziram o conceito
da educação baseada em recursos (resource-based learning), que se caracterizava pelos processos
de construção de conhecimento a partir da busca e uso da informação, de maneira integrada ao
currículo, cuja filosofia compreendia a biblioteca como elemento chave na educação.
Eles defendiam que as necessidades de aprendizado dos alunos não podiam mais ser
satisfeitas com os livros textos e os materiais existentes nas bibliotecas. Era preciso dar a eles
condições para que aprendessem mais e melhor, de maneira independente e autônoma,
(DUDZIAK, 2010). Corroborando a visão de Breivik (1985), em 1987, a monografia de Karol C.
Kuhlthau intitulada Information Skills for an Information Society: a review of research, lançou as
bases da Information Literacy Education, ou seja, a Educação voltada para a Alfabetização em
Informação, segundo dois eixos fundamentais: sua integração ao currículo, a partir da proficiência
em investigação, identificada como a meta das bibliotecas do ensino médio; e o amplo acesso aos
recursos informacionais, cruciais ao aprendizado estudantil, a partir da apropriação das tecnologias
de informação e das ferramentas de busca (DUDZIAK, 2003).
De acordo com Campello (2006), a descrição da Information Literacy que é das mais
citadas na literatura biblioteconômica e da Ciência da Informação conclui a seguinte
caracterização de competência informacional e como deve ser uma pessoa competente em
informação:
Para ser competente em informação a pessoa deve ser capaz de reconhecer quando precisa
de informação e possuir habilidade para localizar, avaliar e usar efetivamente a
informação [...] Em última análise, pessoas que têm competência informacional são
aquelas que aprenderam a aprender. Essas pessoas sabem como aprender porque sabem
como a informação está organizada, como encontrar informação e como usar informação,
de tal forma que outros possam aprender com elas (ALA, 1989).
Na segunda metade da década de 80, os primeiros estudos de caso e surveys relacionados
ao tema foram publicados. Na década de 90 surgiram os primeiros livros e as primeiras
dissertações e teses sobre o assunto. Em 1991, a Fédération Internationale d’Information et de
Documentation (FID) criou o FID Special Interest Group - Modern Information Professional,
envolvendo profissionais das áreas de Biblioteconomia, Arquivologia, Museologia e
Administração, com o objetivo de realizar uma pesquisa mundial para verificar competências e
necessidades de formação do moderno profissional da informação.
Pesq. Bras. em Ci. da Inf. e Bib., João Pessoa, v. 14, n. 4, p. 039-065, 2019.
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Somente em 1992, o ERIC
3
incorporou a expressão information literacyà sua lista de
descritores. A partir de então, os profissionais da informação, conscientes da necessidade de
possibilitar o acesso rápido e fácil ao novo universo informacional, de maneira eficaz e eficiente,
voltaram-se para a Information Literacy. Passaram a pensar em tornar os usuários da biblioteca,
aprendizes independentes, enfatizando a integração curricular e a cooperação com a comunidade.
A primeira parte dos anos 90 foi um período de institucionalização e de racionalização do
conceito, quando as modificações no mundo do trabalho proporcionaram o equilíbrio entre a
gestão das qualificações e o reconhecimento das competências, iniciando-se a procura de métodos
e a realização das primeiras pesquisas. no final dos anos 1990, a competência toma lugar no
contexto da gestão de recursos humanos e se informatiza, adquirindo também importância
crescente dentro do debate social (MIRANDA, 2004b).
Um dos marcos importantes neste período foi a criação, em 1997 do Institute for
information literacy pela ALA-ACRL, destinado prioritariamente a treinar bibliotecários e dar
suporte à implementação de programas educacionais no ensino superior. Por outro lado, tem se
referido um programa de imersão para tratamento e capacitação de bibliotecários a fim de torná-
los agentes multiplicadores de competência em informação. Outra organização que recebe o
suporte da ALA é a Library Instruction Round Table (LIRT), voltada para a competência em
informação, a instrução e orientação bibliográfica, disponibilizando um site com publicações,
conferências, comitês e diversos links de programas educacionais, para além de outras atividades.
A LOEX Clearinghouse for Library Instruction promove a disseminação da orientação
bibliográfica e da competência em informação. Em março de 1998 a ALA lançou um relatório de
atualização onde delineia seis recomendações sobre a competência em informação, refinando a
premissa de adequação de sistemas e de profissionais de recursos e fontes informacionais e a
necessidade de atuação interdisciplinar, integrando também os ambientes educacionais e
profissionais (MIRANDA, 2004).
A descrição histórica da competência em informação deixou claro que tem sua fundação
na Biblioteconomia e Ciência da Informação, isto é, em autores nesta área preocupados com a
tomada de decisão rápida no momento da satisfação da necessidade de informação ao usuário,
como consequência da introdução das tecnologias eletrônicas de informação e comunicação que
caracterizaram a nova sociedade de informação. Na literatura existente sobre a competência em
informação verifica-se a falta de unanimidade no uso e na atribuição de significado da expressão.
Algumas vezes, é usada para substituir expressões como a alfabetização do usuário, capacitação
do uso das bibliotecas bem como estudo do usuário.
Nos Estados Unidos e em países de língua inglesa o uso da expressão literacy associada ao
termo informação foi claramente aceito, mas verificou-se que em outros países não
concordância na sua utilização chegando a variações de expressões. A exemplo de Portugal, que
a expressão foi traduzida como literância informacional ou literância da informação. Em países
onde se fala o espanhol, adota-se a expressão alfabetización informacional, mas a expressão
competência informacional também é utilizada. No caso do Brasil, a questão da tradução da
expressão information literacy ainda suscita discussão e não há consenso. Alguns bibliotecários e
pesquisadores da área utilizam a expressão alfabetização informacional, outros adotam letramento
informacional, enquanto muitos utilizam competência informacional.
3
Education Resources Information Center. Disponível em: https://eric.ed.gov/. Acesso em: 11 fev. 2019.
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Notório que existem discussões que levantam a questão de competência em informação
como versão da gestão do conhecimento. Dado que, no Brasil, a alfabetização tem seu significado
fortemente associado às fases iniciais da educação, ao passo que a literância e o letramento ligam-
se predominantemente ao universo das palavras, é preciso refletir sobre a terminologia mais
adequada e representativa.
A adoção da tradução do conceito como competência em informação parece ser a melhor
escolha, por ter significado mais abrangente, além de ser aceita e valorizada tanto na área
educacional quanto nos círculos profissionais e principalmente na área de biblioteconomia. A
information literacy é
[...] um termo inclusivo, englobando todas as demais: alfabetização informacional,
letramento, literância, fluência informacional, competência em informação. A utilização
da expressão competência em informação parece ser a mais adequada em função de sua
definição voltar-se a um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar,
integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor,
direcionados à informação e seu vasto universo (DUDZIAK, 2010, p. 8).
A ideia de competência em informação embora tenha emergido com o advento das TIC no
início dos anos 70 ganha mais destaque a partir dos anos 90 quando várias empresas procuravam
maximizar os custos através de uso cada vez maior de tecnologias eletrônicas de informação e
comunicação adequadas no processo de produção até disseminação da informação.
Desta forma, passando a exigir um profissional com conhecimento, habilidades e atitude
proativa não somente para o processo de produção, mas também no manuseamento das fontes
eletrônicas com vista à satisfação rápida das exigências cada vez mais crescentes do usuário. Por
outro lado, esta necessidade colocava a instituição no contexto em que emergia e possibilitava a
competitividade. Isto é, as empresas necessitavam de informação adequada do meio em que se
encontravam para se enquadrarem e satisfazer as necessidades do usuário.
A satisfação do usuário nesta sociedade de informação depende de um eficiente
processamento cnico e rápido que é constituído por atividades de organização, recuperação,
apresentação, disseminação da informação e interface, inseridas por tecnologias de informação e
comunicação que reúnem todos os elementos de interação do usuário com ambiente informacional
da rede (FREIRE, G.; MUNGUAMBE, 2016).
Segundo Bruce (1999), um dos pioneiros da discussão da competência em informação “a
habilidade para reconhecer necessidades de informação e identificar, avaliar e usar a informação
de forma eficaz”. Para Dudziak (2003, p. 23) o conceito de competência em informação não seria
muito diferenciado de Bruce (1999) ao designar como sendo “[…] processo contínuo de
internalização de fundamentos conceituais, atitudinais, de habilidades, necessários à compreensão
e interação permanente com o universo informacional e a sua dinâmica, de modo a proporcionar
um aprendizado ao longo da vida”.
A definição de Bruce (1999) aponta a necessidade do indivíduo em adquirir a competência
em informação a partir de um ciclo de atividades que fazem parte de um processo de aprendizagem
ao longo da vida (permanente), indicado por Dudziak.
Concordando com Dudziak (2001, p.59) a competência em informação vai para além da
busca pela informação, por considerar os processos intelectuais superiores tais como a
interpretação, avaliação, organização da informação e seu uso, com o objetivo de interiorização
de conhecimentos, habilidades e valores que levem ao aprendizado independente, auto-orientado,
Pesq. Bras. em Ci. da Inf. e Bib., João Pessoa, v. 14, n. 4, p. 039-065, 2019.
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ao longo da vida. Como aponta Bruce (1999) o aprendizado contínuo independente e auto-
orientado pode auxiliar ao indivíduo a atingir a eficiência e a eficácia. Para alcançar eficácia e
eficiência os educadores voltados para a alfabetização de informações, devem projetar estratégias
de aprendizagem que auxiliam aos alunos a aprender através do processo de uso efetivo da
informação.
Este comportamento revela a atitude proativa do indivíduo nas suas atividades e constitui
um dos mecanismos para o alcance da competência em informação de acordo com as definições
até agora discutidos. O indivíduo na sua atividade deve ser aquele que realiza as tarefas de forma
a procurar solucionar os problemas, assim ele atinge habilidades desejadas. A sua performance
depende do seu conhecimento, habilidade e atitude.
Estes fundamentos conceituais (conhecimento, habilidade e atitudes) Pontes Junior
(2009), designou-os como CHA`s, definindo-os como parâmetro norteador para avaliação das
competências e os descreveu como sendo conhecimento- aquilo que o indivíduo deve ter para
desenvolver suas funções com a máxima de excelência é o saber (conhecimentos das regras e
técnicas); habilidade é quando se tem habilidade ou aptidão para desempenhar algo, é saber fazer
(a experiência da ação). E atitude é conceituada como a noção de colocar em prática seus
conhecimentos e suas habilidades, saber ser e estar (comportamento e conduta ética do profissional
bibliotecário).
A ética profissional traduz-se num “conjunto de valores morais que uma determinada
classe profissional deve se orientar e seguir para alcançar um agir profissional correto e adequado
para com a sociedade [...]” (GUIMARÃES et al., 2008, p. 143). Traduzido para Souza (2002)
como um conjunto de normas que regem a boa conduta profissional.
O fazer do bibliotecário em seu cotidiano, portanto, está diretamente ligado a atitudes
[saber estar], o comportamento ético [normas=artefatos], tanto em relação ao usuário, quanto em
relação ao próprio fazer informacional, [em todo o processo de produção da informação] até a
disseminação desses dados e informações ao público interessado (VALENTIM, 2004).
Essas atitudes ao criarem constrangimento, (não adoção de princípios éticos) atingem as
áreas que Fernandéz-Molina (2000) cita como sendo as cinco principais áreas com implicações
éticas para o bibliotecário, que são: a liberdade intelectual e a censura; o acesso à informação; os
serviços de referência; a privacidade, confidencialidade e proteção de dados pessoais; e, o direito
do autor.
Segundo Guedes, Baptista e Borges (2011) as ações do bibliotecário pautadas em
princípios éticos influenciam o ciclo de vida da informação. No entanto, para ser capaz de tomar
decisões éticas, no ciclo de produção da informação- criação-gestão da informação (=aquisição,
organização, armazenamento-recuperação- acesso-disseminação)-uso da informação (=uso-
compartilhamento aplicação)- com vista a satisfação da necessidade do usuário, torna-se
imprescindível observar como valores à profissão bibliotecária: a honestidade, respeito ao
indivíduo, coragem, tolerância, integridade, flexibilidade, caráter sigiloso, humildade e
responsabilidade.
Nesse sentido, a ética profissional contribui para a formação da consciência profissional
(ações éticas), que resulta, por sua vez, em integridade e justiça. Desta maneira, as ações éticas,
norteiam o “fazer bibliotecário” no ambiente profissional (VALENTIM, 2004).Desta feita, se a
ética não for observada e acompanhada a través das ações de informação de mediação realizando
avaliações das atividades, bem como no seu planejamento, em algum momento do processo de
produção pode sofrer algum constrangimento.
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Para resolver e/ou esclarecer dilemas éticos, o código de ética da profissão constitui-se
uma fonte essencial para auxiliar o profissional a tomar decisões e cumprir seu papel social. Além
disso, é importante definir a ética e a moral que serão praticadas por uma equipe no cotidiano do
espaço informacional (VALENTIM, 2004).
Souza (2002, p. 55) acrescenta que o código deontológico deve “detalhar minuciosamente
o modo de proceder e o comportamento pessoal, em cada momento, em cada relação de trabalho
do profissional [...]”. Assim, ser ético no âmbito da profissão bibliotecária na óptica de Ferreira
(2004, p. 17) significa:
a) não sonegar informação;
b) atender com educação os usuários;
c) valorizar a profissão em qualquer situação ou lugar em que o profissional se
encontre;
d) não ser conivente com atitudes contrárias às normas estabelecidas pela
legislação profissional;
e) interagir e comunicar-se com diferentes tipos de público, sem discriminação
de cor, raça, nacionalidade, religião ou ideologia;
f) lutar por melhores salários e melhores condições de trabalho;
g) engajar-se no movimento de classe, conselho, associação, sindicatos;
h) buscar atualização contínua;
i) reivindicar uma formação profissional de qualidade;
j) combater o exercício ilegal da profissão;
k) lutar por melhores empregos e exigir do governo abertura de vagas para
bibliotecários nas diferentes instituições do setor público;
l) ser empreendedor, fazendo valer a profissão liberal [com o uso de
legislações que suportam a área].
Neste sentido, Valentim (2004, p. 67) aponta algumas considerações básicas para que as
questões éticas sejam solucionadas no ambiente profissional e informacional, quais sejam: “a)
integrar as normas éticas em busca do sucesso da organização; b) ter uma atitude orientada para
os outros; c) motivar com base na ética organizacional o comportamento pragmático e
competitivo”. Todavia, de acordo com a autora, do ponto de vista pessoal o certo e o errado torna-
se subjetivo. O que pode estar certo para um profissional, pode estar errado para outro.
Uma das definições mais usadas da competência em informação é apresentada pela ALA:
As pessoas competentes em informação são aquelas que aprenderam a aprender. Sabem
como aprender, como o conhecimento é organizado, como encontrar a informação e como
usá-la tendo como resultado o aprendizado através da informação recuperada e
disponibilizada de maneira correta de tal modo que outras pessoas aprendam a partir dela
(ALA, 1989, p. 1).
A competência em informação é um processo que tem por objetivo desenvolver e
aprimorar as habilidades dos indivíduos, a fim de torná-los críticos perante o contingente
informacional. Como coloca Santos (2011), o indivíduo competente em informação é capaz de
assumir com consciência, tanto crítica como ética, diversidade e complexidade de fatores que
medeiam o acesso à informação.
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Este cenário mostra que o advento das tecnologias eletrônicas de informação não seria por
si a solução para a satisfação das necessidades de informação rápida no tempo e espaço real
sem que houvesse mudança da forma de concepção na produção, organização e distribuição da
informação. Ou seja, sem uma mão de obra com habilidades suficientes não só, para o manuseio
das tecnologias de informação, como também recursos humanos disponíveis à mudança de
mentalidade para o aprendizado contínuo (aprender a aprender), e que coloque o seu conhecimento
em prática dentro das regras do regime de informação que a impõe.
De acordo com vários autores “as organizações que investem em tecnologia, mas não se
ocupam com o fator humano, perdem investimentos, pois os empregados continuam sem saber
como solucionar os problemas causados pelo excesso de informação, além de viverem em estado
de ansiedade, por não saberem como conviver com esse excesso” (MANGUE, 2007; BRUCE,
1999).
No entanto, o técnico que trabalha com a informação deve prover os componentes da
competência em informação que são os elementos que compreende a competência profissional
que é o conjunto de conhecimentos habilidades e atitudes que cada pessoa possui ou desenvolve,
as quais consegue colocar em ão para um determinado propósito ou, permitem o
desenvolvimento da organização no cumprimento de sua missão organizacional, que são processos
que permitem combinar aptidões, sistemas ativos e valores, proporcionando vantagem competitiva
e fornecendo preciosas funcionalidades à clientela. São as técnicas, formas de trabalho,
competências de serviços e, a competência chave que representa a aprendizagem coletiva da
organização, especialmente sobre como coordenar diversas habilidades produtivas e integrar
múltiplas correntes de tecnologia são as habilidades e tecnologias cuja marca de autenticidade é a
integração (MIRANDA, 2004b). A competência em informação, neste caso pode ser considerada
como “um conjunto das competências profissionais, organizacionais e competências-chave que
possam estar ligadas ao perfil de um profissional da informação ou de uma atividade baseada,
intensivamente em informação” (MIRANDA, 2004b, p. 118).
Nas organizações voltadas para a aprendizagem, a biblioteca (escolar ou universitária)
desempenha papel importante no desenvolvimento da competência em informação, não devendo
se limitar apenas ao papel básico de organização da informação em suportes tradicionais, como o
livro ou revista, de mediação entre o leitor e a informação desejada e de disponibilizador de
informações. Deve agir como facilitador do processo de competência em informação, de forma a
tornar os usuários aptos a desenvolver habilidades que vão lhes permitir utilizar a informação
eficazmente. Nesse sentido, assume atribuições que na realidade não lhes são novas, mas sim
adequação de funções que já lhes eram próprias , pois já se ocupava com a educação dos usuários
para utilização de recursos, manifestação precursora de prática de competência em informação,
tornando a biblioteca mais ativa e atraente (COELHO, 2011).
A necessidade de aprender, acrescentar ou buscar conhecimento no processo de
localização, acesso, divulgação e uso da informação em diversas fontes e com apoio das diversas
ferramentas (manuais e técnicas eletrônicas adequadas), é visível em todas as definições sobre a
competência em informação, e ligada ao processo educativo de qualquer instituição ou contexto.
O indivíduo, neste caso o bibliotecário, também é chamado a pensar de forma crítica, quando
colocam a questão da atitude proativa como um componente da competência em informação. Esta
atitude seria tanto no desenvolvimento da necessidade constante de informar eficientemente assim
como no de se formar ao longo da vida.
Pesq. Bras. em Ci. da Inf. e Bib., João Pessoa, v. 14, n. 4, p. 039-065, 2019.
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No ambiente laboral a competência em informação ganha corpo e espaço, porque o
trabalho do presente e do futuro demanda um novo tipo de trabalhador, que tem que saber acessar,
administrar e usar grande quantidade de informação que lhe é disponibilizada por meio de vários
canais, como telefone, internet, e-mail, televisão e em variados formatos, como vídeo, CD-Roms
e textos impressos e eletrônicos (COELHO, 2011).
Esta ideia já era compartilhada por certos estudos realizados por alguns autores que
apontam, dentre outras, as tecnologias digitais de informação e comunicação como componente
fundamental na competência em informacional do bibliotecário. É o caso da SLA (1996), uma
organização de bibliotecários especializados e orientados à mudança. Em seu estudo sobre as
competências e as habilidades que os bibliotecários devem apresentar para trabalhar no momento
atual em que as transformações sociais e tecnológicas acontecem muito rapidamente e no futuro
apontou que os futuros bibliotecários do século 21 devem possuir conhecimento profundo em
recursos informacionais impressos e eletrônicos e a capacidade de desenvolver e administrar
serviços de informação que atendam as necessidades de grupos de usuários. Silva et al. (2005, p.
34) colocam que a competência em informação é interpretada como mais uma de várias
competências, mas é descrita também como a competência mais essencial para o culo XXI e
está, atualmente, intrinsecamente associada com práticas de informação e o pensamento crítico,
no ambiente das tecnologias de informação e comunicação.
Por outro lado, enfatizava a necessidade da competência em tecnologias, quando defendia
que o bibliotecário também deve procurar ser um conhecedor de aplicações tecnológicas para
trabalhar com outros membros da equipe de gestão da informação em igualdade de condições,
além de aprender a especificar e avaliar sistemas de acesso à informação que sejam adequados às
necessidades de seus usuários. Isto é, saber usar a tecnologia eletrônica da informação para
adquirir, organizar e disseminar informação (SLA, 1996).
Na mesma linha, o Conselho Europeu das Associações de Informação e Documentação
(2005), uma organização de bibliotecários da Europa, coloca que os técnicos em informação
devem possuir para atuar na sociedade da informação competências em informação, tecnológicas,
administrativas e as habilidades, referindo que as tecnologias compreendem domínios de
competências que não têm em comum apenas assegurar uma função essencial, mas utilizar os
mesmos instrumentos materiais e intelectuais mediados pelas tecnologias emergentes.
Para tal, Miranda (2004) defende que o indivíduo no seu processo de trabalho tem que ter
a informação pertinente, específica, selecionada, personalizada de acordo com as solicitações ou
a demanda com vista a desempenhar a sua atividade com a devida competência, para não
comprometer a competência do utilizador.
Segundo os autores Campello e Abreu (2005) complementam ao argumentarem que para
ser capaz de construir uma nova forma de estar e de contribuir para a educação de pessoas
competentes em informação, o próprio bibliotecário deve ser competente em informação e
dominar as habilidades necessárias para realizar o processo de pesquisa adequadamente.
A sociedade da informação exige profissionais cada vez mais qualificados, com
habilidades para tomar decisões, também exige que o profissional tenha capacidade para trabalhar
em equipe, em rede, em parceria, compartilhando informações tanto dentro da instituição em todos
os níveis do sistema, bem como de fora para dentro, contribuindo ativamente para o aumento do
fluxo, da disseminação de informações e na eficiência do ciclo de produção da informação. Esta
posição é colaborada por Valentim (2000, p. 18) ao defender que
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[...] os profissionais da informação precisam, cada vez mais, ter uma formação que
permita atender uma determinada demanda social. No entanto, a formação também
não resolve a questão, ou seja, para que os profissionais da informação ocupem os espaços
a eles destinados no mercado de trabalho, é necessário que a formação defina um perfil
de profissional que deseja e tão importante quanto a formação é que haja ações que
divulguem o profissional para o mercado empregador.
Esse aspecto dinâmico que o profissional da informação deve ter, Valentim, (2002) aponta
que somente será possível a partir de uma postura crítica de si mesmo e uma busca constante pela
atualização e adequação às mudanças paradigmáticas. Por outro lado, para incorporar essa postura
o profissional da informação o bibliotecário , deve atuar consciente de seis pontos fundamentais
e responder claramente para si e para outros sobre:
a) realidade: saber separar a situação real da situação ideal; conhecer os pontos fracos e
fortes da área; ter noção de conjunto; ter consciência de país;
b) identidade: quem somos; o que queremos; qual é o nosso objeto de trabalho; onde
queremos chegar; qual é a nossa estratégia profissional.
c) foco: quem são nossos clientes reais; quem são nossos clientes potenciais; quem são
nossos parceiros; quem são nossos concorrentes; o que somos para a sociedade; o que
queremos ser para a sociedade.
d) processos: qual é a nossa matéria-prima de trabalho; quais são os nossos produtos
informacionais; o que e como produzimos atualmente; o que e como produziremos no
futuro.
e) recursos: quais as tecnologias atuais e quais as tendências das tecnologias de
informação no próximo milênio; quais os tipos de unidades de trabalhos atuais e quais
os tipos que existirão; quais os modelos de gestão atuais e quais as tendências.
f) perspectivas: quais serão as competências e habilidades necessárias ao profissional;
qual será o nosso objeto de trabalho; qual será nosso mercado de trabalho; o que a
sociedade estará precisando no futuro.
Esta visão é compartilhada com vários autores dentre eles Arruda, Marteleto e Souza
(2000, p. 17), quando dizem que
[...] elege-se como ideal o profissional que potencialize a comunicação, a interpretação
de dados, a flexibilização, a integração funcional e a geração, absorção e troca de
conhecimento. Este, portanto, deve ser capaz de operacionalizar seu conhecimento
profissional de modo integrado às suas aptidões e vivências socioculturais. É necessário
um profissional capaz de interpretar dados e sinais emitidos pelos novos sistemas
autômatos, agindo pró-ativamente a partir desses dados, atuando como agente do
processo de inovação. Em vez de ser responsável por uma tarefa, o que caracterizava
a especialização, solicita-se que ele cumpra diversas tarefas, que seja polivalente
(Enquanto o primeiro é submetido a maior número de rotinas/tarefas em adição às que
realiza, sem que com isso ocorra maior intelectualização do trabalho) ou multifuncional
(exposto a situações complexas, que requerem maior atuação cognitiva), demonstrando
responsabilidade pelo seu processo de trabalho.
O aumento do uso de tecnologias eletrônicas de informação na transição para uma
sociedade da informação é proporcionada também pela competência em informação “[...]
possibilitando a milhares de pessoas confrontarem obstáculos, grandes demandas e competências
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profissionais, requisitos fundamentais nesta sociedade de redes, ampliando a inserção social e
global do cidadão” (AUN; CÂMARA, 2005, p. 1). Porque, a competência em informação é
relacionada à formação de pessoas capazes de, com espírito crítico, utilizar técnicas e aplicá-las
nas suas necessidades de informação em qualquer ambiente. Inclui aprendizado ao longo da vida
e habilidade para atuar efetivamente na sociedade da informação (COELHO, 2011).
Uma das características fundamentais do profissional do futuro é a capacidade de aprender
e renovar-se continuamente, desenvolver habilidades relacionadas à localização, seleção, acesso,
utilização e divulgação da informação. E, estas características representam uma tarefa fundamental
para as universidades (CAREGNATO, 2000). Diante do exposto podemos concordar com a
definição de competência em informação colocada por Dudziak (2003, p. 34) que seria:
[...] um processo de aprendizado contínuo que envolve informação, conhecimento e
inteligência. É transdisciplinar, incorporando um conjunto integrado de habilidades,
conhecimentos, valores pessoais e sociais; permeia qualquer fenômeno de criação,
resolução de problemas e/ou tomada de decisões. E, os componentes que sustentam o
conceito da competência em informação são: o processo investigativo; o aprendizado
ativo; o aprendizado independente; o pensamento crítico; o aprender a aprender; e o
aprendizado ao longo da vida.
Desta feita, entendemos como competência em informação o conjunto de conhecimentos
e habilidades, conjugada a tomada de atitude proativa do bibliotecário, que o possibilita colocar
em ação os conhecimentos que passam por experiências e capacidades adquiridas ao longo do
tempo. É a absorção de habilidades práticas, (do saber fazer) daquilo que o indivíduo sabia ou
tinha como conhecimento abstrato (o saber), alcançando a atitude proativa (o saber estar). Este
saber estar é a atitude proativa que o bibliotecário deve ter e que auxiliará na definição da
informação certa para a melhor tomada de decisão e, por conseguinte poderá ajudar a renovar os
conhecimentos de acordo com as demandas que a sociedade impõe (aprender a aprender ao longo
da vida). Estas atividades (localização, seleção, acesso, utilização e divulgação) desenvolvidas
num contexto (regime e políticas de informação) com a devida ética profissional.
No I Encontro de Especialistas em Competência em Informacional e Aprendizado ao
Longo da Vida, chegou-se ao consenso de que a competência em informação ocupa lugar central
para a viabilização da educação continuada no decorrer da existência. A partir da competência em
informação é possível assegurar a capacidade de identificação, localização, seleção, obtenção,
avaliação e utilização da informação na geração de conhecimentos e novas informações, visando
a metas pessoais, sociais, ocupacionais e educacionais (IFLA, 2005). “As competências em
informação passam a ser considerados direito básico e fundamental para a inclusão social” (IFLA,
2005, p. 171).
A partir das diretrizes propostas, o Comitê para a Formação e Superação da FID (FID/ET)
considera que o bibliotecário deve apresentar em seu perfil habilidades, atitudes e conhecimentos
explicitados, quais sejam, a capacidade para:
a) a organização do conhecimento, incluídos os processos de armazenamento e
recuperação da informação, atendendo às limitações impostas pelos diferentes tipos de
conhecimento e por meio de ferramentas linguísticas e conceituais adequadas;
b) a criação de pontos de acesso físico e intelectual à informação por meio da instrução
aos usuários, produção de interfaces de acesso às bases de dados e produção de
manuais;
c) a análise de recursos e fluxos da informação;
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d) a implementação de sistemas e serviços de informação e para a gerência de recursos
informacionais;
e) o empacotamento e reempacotamento da informação;
f) a aplicação de métodos de pesquisa de mercado e para a análise de custo / benefício
dos serviços prestados;
g) a comunicação efetiva, de modo a permitir a interpretação, empatia e cordialidade nos
relacionamentos interpessoais com os usuários;
h) a aplicação de cnicas de avaliação de programas e projetos, e para a determinação de
padrões de qualidade; a pesquisa e para a docência (SANTOS, 1996).
De acordo com a Special Libraries Association SLA (2003) o indivíduo estará capacitado
em habilidades informacionais ao incorporar os quatro padrões de competências em informação:
a) as práticas de conhecimento nos meios de informação;
b) prática do acesso;
c) prática de gestão e tecnologia; e
d) a capacidade de usar esse conhecimento como base para fornecer um numero maior de
serviços informacionais da mais alta qualidade.
O Conselho de Administração da SLA de acordo com o documento da Alexandria,
Virginia, 19 de abril de 2016 a SLA revisou e atualizou as competências em informação que seus
membros e outros profissionais de informação usam para gerenciar o crescente volume de
informações, conhecimento e dados críticos para o funcionamento e o sucesso de organizações.
Foram descritos dentro da identificação, acesso, seleção ou avaliação, divulgação, uso,
distribuindo-os em vários serviços. Competências em informação que já havia sido atualizado em
2003. O documento sobre competências em informação descreve as habilidades e conhecimentos
que os bibliotecários especiais precisam para ser eficaz no seu papel de ajudar as organizações a
terem sucesso.
As competências são divididas em dois grupos: competências essenciais, que são
intrínsecas à profissão de informação, e competências facilitadoras, que são utilizadas por
profissionais de outros campos, bem como bibliotecários especiais.
a) as competências essenciais, tais como a recuperação e análise de informação e dados,
definem essencialmente o que os profissionais de informação fazem e como funcionam;
b) as competências de habilitação, que incluem comunicação eficaz, gerenciamento de
projetos e inovação, apóiam o sucesso e o desenvolvimento profissional geral.
As competências de habilidade não iremos descrevê-las por apresentarem as mesmas
características descritas por vários autores discutidos neste trabalho e compilados no documento
Information power como parâmetros para a competência em informação. Vale ressaltar que a SLA
considera-os como sendo competências em informação "capacitadoras" vitais para o sucesso
profissional e desenvolvimento de carreira.
Para uma melhor compreensão apresentaremos a seguir as competências em informação
essenciais para os gestores considerados seniores da biblioteca:
a) reconhecer e articular as necessidades de informação e conhecimento:
analisar fluxos de informação e conhecimento relevantes para o contexto de
características da comunidade e objetivos organizacionais;
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permitir a partilha de conhecimentos através de contatos e relações interpessoais,
bem como através de sistemas e processos digitais ou eletrônicos;
priorizar os serviços de informação para atender às necessidades operacionais ou
estratégicas mais críticas da organização;
advogar para a utilização e gestão eficaz dos sistemas e processos de informação;
ensinar, treinar e desenvolver a alfabetização em informação e as competências
associadas para as partes interessadas;
usar habilidades de gerenciamento de informações para aprender sobre um
domínio, disciplina ou indústria;
aplicar o conhecimento do domínio sujeito ao ambiente de trabalho para apoiar a
missão organizacional; e
compreender os variados aspectos do comportamento da informação humana;
b) sistemas e tecnologia de informação e conhecimento, que inclui a concepção de
interfaces para uma experiência de utilizador intuitiva:
envolve múltiplos stakeholders (as pessoas que legitimam as ações de uma
organização e que tem um papel direto ou indireto na gestão e resultados dessa
mesma organização) para recomendar a arquitetura de informações necessária
para toda a organização;
c) recursos de informação e conhecimento, incluindo estabelecimento de orçamentos e
alinhamento da estratégia de gestão de recursos de informação para atender às
necessidades da organização;
d) recuperação e análise de informações e dados, incluindo o desenvolvimento de
estratégias de busca para descobrir e recuperar informações e avaliar a veracidade ou
qualidade dessas informações;
e) organização de dados, informações e recursos de conhecimento, incluindo o
desenvolvimento de esquemas e taxonomias de metadados personalizados; e
f) ética da informação, que inclui a modelação do comportamento da informação ética e
o reconhecimento de questões éticas relativas ao tratamento da informação.
Constata-se que são necessárias, não somente as competências técnicas de informação que
são científicas mais relacionadas ao fazer técnico do profissional bibliotecário (habilidade), como:
selecionar, registrar, armazenar, recuperar e difundir informações; o conjunto das competências
profissional, organizacional. Pois, estas em conjunto farão com que a organização atinja a
competência essencial e de habilidade, mas por outro lado enquadrar-se nas novas mudanças
porque, para adquirir o status de “moderno”, esse profissional, precisa ser flexível às mudanças
em função das novas tendências impostas pela convivência social no novo milênio (LE COADIC,
2004).
Conforme coloca Correia (2002) a competência em informação pode proporcionar aos
indivíduos:
a) expertise” (atitude) para lidar com: as tecnologias eletrônicas de informação em
contextos informacionais; capacidade de identificar todas as etapas em um trabalho
com informação; o ciclo informacional o indivíduo é capaz de gerenciar a informação
e sua interface com as tecnologias;
b) habilidade para mapear competências informacionais capacidade de agregar valor
ao negócio e contribuir para a criação de seu diferencial competitivo;
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c) capacidade para aperfeiçoar competências em informação o indivíduo é capaz de
focar em competências genéricas, agrupar semelhanças, identificar necessidades
futuras.
Essas competências em informação posicionam os indivíduos o saber atuar como cidadãos
ativos em uma sociedade baseada no alto valor dado à informação e nos rápidos avanços
tecnológicos (BELLUZZO; KERBAUY, 2004). Mais do que aprender verdades estabelecidas e
indiscutíveis, é necessário aprender a conviver com a diversidade de perspectivas, com a
relatividade das teorias, com a existência de múltiplas interpretações de toda informação, para
construir, a partir delas, o próprio juízo ou ponto de vista (MORIN, 2001). Como coloca Serafim
(2011), a competência em informação é a habilidade para reconhecer necessidades de informação
identificar, avaliar e usar a informação de forma eficaz.
Podemos nos posicionar, dizendo que o indivíduo com competência em informação, diante
destas definições é aquele que sabe e usa a arte de definir, localizar, acessar, avaliar e usar a
informação dentro de um contexto e com a devida ética. Estabelece relações sociais, físicas e
textuais com a informação de forma a que lhe proporcionem praticidade a lidar com a
complexidade e variedade de fontes de informação em um determinado contexto. E está
relacionada à capacidade de fazer bem o seu trabalho de lidar com a informação, utilizando-se do
seu espírito crítico.
Importante ressaltar que para que a formação do bibliotecário seja bem embasada torna-se
necessário a conciliação do conteúdo curricular teórico com a prática durante o processo de sua
formação, tendo em conta as exigências do mercado. Assim, o bibliotecário em formação,
facilmente poderá visualizar melhor as suas responsabilidades e o seu papel perante a sociedade
antes mesmo do fim da sua formação. Este modelo decorre do fato da atitude do profissional no
decorrer da sua profissão tornar-se mais importante na sociedade de informação, pois cada
tecnologia que emerge exige um profissional pronto a agir e incorporar a mudança ou assimilação
de padrões emergentes de trabalho, isto é ter uma mente mais aberta.
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