Pesq. Bras. em Ci. da Inf. e Bib., João Pessoa, v. 14, n. 4, p. 089-092, 2019.
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O ARADO SEXAGENÁRIO: ESTUDO DE EDIÇÃO
Bibliotecária da UFRN
(1965-1985)
Gildete Moura de Figueirêdo
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Trata-se do terceiro livro de poesias de Zila [da Costa] Mamede
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, dedicado ao avô materno:
“A meu avô Caçote” [Francisco Bezerra de Medeiros] e “a Nova Palmeira, terra mãe, fonte raiz,
chão do meu chão”. Das quatro edições deste livro (1959, 1978, 2003, 2005), só na primeira e na
quarta, o título vem seguido de subtítulo.
Na primeira edição, em O Arado: poesia (1959), 20 poemas são incluídos e 19 nas
seguintes, conforme o sumário que segue.
Sumário
Arado, 11
Rua (Trairi), 12
O Alto (o avô), 13
O Alto (a avó), 14
O Prato, 15
O Rio, 16
Banho Rural, 17
O Açude, 19
A Colheita, 20
Trigal, 21
Moenda, 22
A Apanha, 23
Milharais, 25
Colina e Cabras, 27
Cavalo Branco, 28
Bois Dormindo (I), 29
Bois Dormindo (II), 30
Marcha para o Jumento Passarinho, 31
Retirada, 33
Um Pássaro me Hás de Dar, 34
Das quatro edições, a primeira inclui o poema Retirada (1959, p. 33). Vale rememorar
que, nas edições seguintes (1978, 2003, 2005), ele não é incluído. As razões desta não inclusão,
nas palavras do estudioso crítico Paulo de Tarso Correia de Melo, são desconhecidas, conforme
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Foi convidada por Zila Mamede para trabalhar em duas obras técnicas: revisão do índice da bibliografia de Luís
da Câmara Cascudo, publicado pela Fundação José Augusto (1970); e, em 1984-1985, revisão do índice da
bibliografia de João Cabral de Melo Neto, publicado pelo Governo do RN (1986). Foi também curadora de várias
exposições bibliográficas, idealizadas por Zila Mamede. Tem vários trabalhos publicados sobre a temática em
foco. Este trabalho adotou as normas da ABNT 6023 2018 e contou com a revisão linguística da Profª. Drª Magda
Renata Marques Diniz (http://lattes.cnpq.br/6101401338219155).
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Zila Mamede nasceu em 15 de setembro de 1928, às 17h de um sábado, no sítio de seu avô materno, Francisco
Bezerra de Medeiros [Caçote, apelidado por ter sido um lendário nadador], no povoado de Nova Palmeira, zona
da caatinga, distrito de Pedra Lavrada, Comarca de Picuí, estado da Paraíba.
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se expressa: “Considerando o aspecto de renovação da linguagem, lamento a exclusão deste
poema” [informação verbal].
Esse crítico ainda recorda discutir com a poeta sobre o hábito que tinha de fazer alterações
nos textos, de edições anteriores, para ocasionais republicações. A seguir, o poema.
Retirada
Os olhos da boiada desenxergam
dimensões cinemascópicas
de pastagens verditons.
Na memória de cercados
enfeixaram palhas.
Debanda-se o rebanho no farejo de vertentes,
ressegue aos aboios madrugadas,
afina cascos e cansadas remoenças
de gramíneas desverdosas.
Sadoro campeando seu repasto
vertilineia sombra espinhadura:
sol
solação
solidade.
Boiada donde vindo
vem cavando apegos,
mais saudades,
mais aconchego amornamento de malhadas de atrás,
mais mesmo chicoteio apartação.
a boiada retira: é inôvo de desinvernação..
Na primeira edição, três poemas recebem dedicatórias: “O Rio” [Para Mauro Mota (p.
16)], “O Açude” [Para Odilon Ribeiro Coutinho (p. 19)] e “Bois Dormindo I” [Para Tomé
Filgueira (p. 29)]”, que se repetem nas edições seguintes.
Dois poemas são indicados para a publicação na Revista da Academia Brasileira de Letras
(1958) Trigal (1959, p. 21) e Rua (Trairi) (1959, p. 12), mas são publicados os poemas Trigal
(1959, p. 21) e Moenda (1959, p. 22). Ainda não é conhecida a razão da troca da indicação do
poema Rua (Trairi) por Moenda. Seguem os poemas publicados.
Trigal
Por entre e noite e noite, essas veredas
para os trigais maduros me acenando.
Despertam-se campinas, precipitam-se
As invenções da luz na ventania.
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Por entre lua e lua, essa querência
um resmungar de espigas conscientes
do retorno às searas, que ceifeiros.
já descerraram olhos invernais.
Planície enlourecendo se oferece
e um mar desenha nos pendões crescentes.
Ceifeiros seus marujos sem navios
pescam sementes, riscam no amarelo
a saudade dos peixes inascidos
nesse (não mar das águas) mar de pão.
Com publicações esparsas em jornais, o poema Trigal fez parte das quatro edições: a
primeira foi em 1959, p. 21; a segunda em 1978, p. 101; a terceira em 2003, p. 137; e a quarta em
2005, p. 39.
Moenda
A rosa primitiva da moenda
está moendo
e o milho novo desabrocha páscoas.
Nos dedos ressurretos dos moleiros
recorta-se
farinhafloripão.
Sofrida pelo arado
a terra inova-se
reponta seiva na periferia.
Tenras hastes imersas vindo
mudam os alqueires em
verdevertical.
Há espigas,
cabeleiras brancas de pendoes decepados
nas manhãs de colheita;
há úmidos terreiros de sabugos vermelhos
onde a rosa,
a primitiva rosa
da moenda gira
e se alucina
em mesa branca e
melifloripão.
Também com publicações esparsas em jornais, o poema Moenda fez parte da primeira
edição do livro O Arado: poesias, em 1959, p. 22; da segunda em 1978, p. 102; da terceira em
2003, p. 138; e da quarta edição em 2005, p. 41.
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No colofão da primeira edição (1958), lê-se: “ÊSTE LIVRO FOI COMPOSTO E
IMPRESSO NAS OFICINAS DA EMPRÊSA GRÁFICA DA ‘REVISTA DOS TRIBUNAIS’ S.
A., À RUA CONDE DE SARZEDAS, 38, SÃO PAULO, PARA A LIVRARIA SÃO JOSÉ, RIO
DE JANEIRO, EM 1959.”.
REFERÊNCIAS
AQUINO, Graça. A memória como evocação: um estudo crítico da obra O Arado, de Zila
Mamede. Prefácio de José Mindlin. Orelha de Diva Maria Cunha Pereira de Macedo. Natal: A.
S., 2005.
AQUINO, Graça (org.). Cartas de Drummond a Zila Mamede. Natal: Sebo Vermelho, 1999.
GALVÃO, Cláudio. Zila Mamede em sonhos navegando (biografia). Natal: Moura Ramos,
2005 (Coleção Letras Natalenses I). [Inclui “Zila da Costa Mamede: vida e obra” (1928-1985).
Cronologia elaborada por Gildete Moura de Figueirêdo, p. 121-158].
FIGUEIRÊDO, Gildete Moura de. Zila da Costa Mamede: vida & obra (1928-1985). Revista do
Conselho Estadual de Cultura do RN. Natal, ano II, n. II, p. 121-158, 2006. Segunda edição
revista e ampliada.
MAMEDE, Zila. Antecolheita. In: SEFFRIN, André (org.) Roteiro da poesia brasileira: anos
50. Seleção e prefácio de André Seffrin. São Paulo: Global, 2007. p. 100.
MAMEDE, Zila. O Arado: poesia. Rio de Janeiro: livraria São José, 1959.
MAMEDE, Zila. O Arado: poesia. Natal: Editora da UFRN, 2005 [edição de bolso e adotado no
vestibular de 2006 da UFRN).
MAMEDE, Zila. Navegos: a herança. Natal: Editora da UFRN, 2003. Prefácio de Tarcísio
Gurgel [edição comemorativa aos 50 anos de Rosa de Pedra].
MAMEDE, Zila. Navegos: poesia reunida, 1953-1978, Belo Horizonte: Editora Vega [edição
comemorativa aos 25 anos de poesia de Zila Mamede].
MAMEDE, Zila. Moenda e Trigal. Revista da Academia Brasileira de Letras, v. 9, n. 21-22,
Rio de Janeiro, jan./jun. 1958, p. 206-207.
MAMEDE, Zila. Trigal. In: SEFFRIN, André (org.) Roteiro da poesia brasileira: anos 50.
Seleção e prefácio de André Seffrin. São Paulo: Global, 2007. p. 101.
MELO, Paulo de Tarso Correia de. O Arado Chegada à infância, à Terra e à plenitude poética.
In: MAMEDE, Zila. Navegos: poesia reunida, 1953-1978. Belo Horizonte: Vega, 1978, p. XV.