A imaterialidade materializada: um estudo sobre o cordel brasileiro

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Resumo

O processo de resignificação nos objetos e nas práticas sociais é percebido na medida em que é atribuído sentido para os humanos, quiça, ainda, pode-se afirmar que determinados produtos simbólicos, sejam objetos ou costumes, podem apenas ser compreendidos por um grupo específico, pois só ele consegue interpretar tais códigos culturais. Essa especificidade, que significa a um grupo identificando-os e caracterizando-os, demarca a sua identidade cultural. Decorre dessa lógica o cordel, produto cultural ressignificado no contexto brasileiro. Esta pesquisa objetiva analisar a (i)materialidade patrimonial relativa ao cordel brasileiro. Expressão cultural da natureza identitária nascidas nas terras nordestinas do Brasil, os folhetos recebem visibilidade nacional no século XXI, incluídos no circuito editoral de livros didáticos do ensino fundamental e médio. Com base em pesquisa estritamente documental e bibliográfica, realizou-se leituras na área do patrimônio, cultura e cordel, estabelecendo os seus enlaces com a Ciência da Informação (CI) na atmosfera do acervo de cordel da Biblioteca de Obras Raras Átila Almeida. A abordagem adotada foi qualitativa na perspectiva da interpretação e da criação de construtos teóricos que vislumbram o diálogo entre as áreas propostas, especificamente, entorno da materialidade e imaterialidade do cordel como fenômeno identitário. A vivacidade e a simplicidade do cordel confirmam os seus traços culturais nordestinos. O cordel, para além do conteúdo, é carregado de valor identitário, pois nos reconhecemos nas histórias produzidas e contadas por nossas mães antes de dormir e na sua simbológica discursiva, que vai desde o uso de termos aos códigos linguísticos que permite nos vermos traduzidos nesse universo literário. É verdade é que a materialidade do cordel concretiza sua inscrição em suportes escritos e digitais, assumindo configuração de livros, folhetos e páginas na internet. O seu reconhecimento enquanto documento de cultura assegura a sua imaterialidade, quer dizer, a sua extrema sintonia com as pessoas. Se ainda são produzidos e comprados é porque há aceitação dos grupos humanos, e isso é por si só argumento que explica por sua relevância e existência. A guarda dos cordéis nas instituições como bibliotecas, por exemplo, é prova de seu reconhecimento social, pois expressam elementos da identidade grupal. Conclui-se que o folheto é um produto da ação humana e se figurou no século XX como notadamente nordestino, assumindo roupagem peculiar dessa cultura. Ele assume sua matéria num suporte e, seu estatuto de patrimônio lhe é atribuído pelo reconhecimento social em função do sentido produzido.

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Biografia do Autor

Manuela Eugênio Maia, Universidade Estadual da Paraiba

http://lattes.cnpq.br/6925135164773452

Professora assistente (desde 2007) no curso de Arquivologia da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Doutora em Ciência da Informação (2018), mestra em Educação (2004), graduada em Biblioteconomia (2006) e Pedagogia (1999) pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

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Publicado

2019-05-24

Edição

Seção

Artigos de revisão