Análise da produção e divulgação de desinformação científica no meio digital

Resumo

O artigo relata pesquisa em andamento que objetiva analisar a produção e divulgação de desinformação científica na web em geral e em uma plataforma de mídia social em particular. A desinformação científica se caracteriza por conteúdos falsos que incluem um discurso negacionista em relação aos consensos científicos em uma postura anticiência, com frequente recurso a narrativas conspiracionistas e a mobilização de evidências alternativas em uma tentativa de mimetizar uma aparência de ciência legítima. Em uma primeira fase, a pesquisa analisa cerca de 5000 artigos de desinformação produzidos pelas agências de checagem de conteúdos no ano de 2019 Dessa análise documental, 105 foram selecionados, produzindo um corpus de artigos analíticos e dos conteúdos originais referenciados por esses artigos, que propagam desinformação científica. Serão avaliadas suas características exógenas (plataformas, mecanismos de difusão) e endógenas (estratégias discursivas, enquadramentos da mensagem e a visão plasmada nesses conteúdos acerca dos conhecimentos científicos que buscam suplantar). Em uma segunda fase da pesquisa será realizado um estudo de caso de vídeos do YouTube, seus metadados e comentários publicados, coletados com software de rastreamento de dados (crawler) a fim de se compreender, por meio de técnicas de análise de redes sociais, a organização e as estratégias de difusão da desinformação. Os resultados preliminares indicam que as áreas da saúde, geociências, farmacologia e história são as mais afetadas pela desinformação científica, que se apresenta como solução moral e epistêmica a uma suposta degradação da atividade científica tradicional. São evidenciados desafios para a ciência da informação em sua preocupação com  o problema da informação e suas relações com o desenvolvimento social e humano (LE COADIC, 2004; SARACEVIC, 1996).